o terceiro incluído

2010-05-26

Um mais um, afinal quantos são?




O meu interesse um pouco desordenado pelas visões transdiscilinares leva-me por vezes a sítios onde estas questões borbulham e se multiplicam. Foi assim que cheguei ao ninho do pensamento complexo e há cerca de três anos recebo a newsletter Interlettre Chemin Faisant, habitualmente repleta de pensamentos interessantes sobre a nossa maneira de nos relacionarmos com aquilo a que chamamos realidade. O nº 51, acabado de receber, traz um editorial escrito por J.L Le Moigne com o título De la légitimation des savoirs à l´exercice des pouvoirs de cuja leitura parti para uma teia de reflexões em que se cruzam insistentemente múltiplas áreas com as quais, também eu insistentemente me cruzo. Pensar sobre ciência e cidadania faz-nos deslizar num campo onde tudo se pode plantar, onde tudo pode germinar incluindo erva daninha. É inevitável a introdução da metáfora quase como discurso oficial, mesmo sabendo que a sua introdução dá origem a irrecusáveis provocações e pontos de partida para novos caminhos de descoberta.

Os críticos da persperpectiva complexa dizem muitas vezes que estes caminhos não levam a lado nenhum e que não passa de uma via de diletantismo nas margens da ciência e da filosofia.

O que se passa é que há pensadores para quem as formas de investigação e de representação do mundo da vida e da actividade humana se tornaram banais e redutoras, escravas de uma lógica cartesiana e do axioma aristotélico do 'terceiro excluído'.

Pelo que me tem sido dado a observar, uma boa parte dos trabalhos reconhecidos pelas academias defendem esta lógica em nome do 'rigor científico e metodológico' cuja essência se constitui como um conjunto de fórmulas que se repetem obstinadamente e que, curiosamente, alguns designam por 'cânone académico'. Talves seja por isso, além da preguiça, claro, que me tenho mantido por fora, mas isso agora não vem ao caso.

Le Moigne cita a partir do Manifesto do CNRS (Centre Natinal de la Recherce Scientifique): Il faut développer de nouveaux instruments de pensée, permettant de saisir des phénomènes de rétroaction, des logiques récursives, des situations d'autonomie relative. Il s’agit là d’un véritable défi pour la connaissance, aussi bien sur le plan empirique que sur le plan théorique.
E interroga-se(nos): somos ou não capazes de desenvolver novos instrumentos de pensamento?
Num apelo ao que chama de desbanalização (détrivialization) da acção humana deixa-nos três aspectos em que devíamos pensar, entre muitos outros:
- O primado da solidariedade entre todos os fenómenos
- A preversidade das habituais interpretações do axioma do 'terceiro excluído'
- A restauração da 'deliberação' nas nossas práticas
(fica aqui para me lembrar de desenvolver isto mais tarde)
Deixa-nos ainda uma ideia mobilizadora de J. Wrensinski :
"Trabalhar para pensar bem com o outro, em reciprocidade" [Travailler à bien penser avec l'autre, en reciprocité]

O título do post é inspirado no título de um livro de P. Caillé, Un et un font trois. Le couple révélé à lui-même, citado por Le Moigne neste artigo.