o terceiro incluído

2007-12-13

Tiques Tecnológicos

É notícia e merece ser dada.











Comissão de Análise do PORI estreia sistema de videoconferência.


No passado dia 10 de Dezembro reuniu-se mais uma vez a Comissão de Análise que está a apreciar os Diagnósticos territoriais do Plano Operacional de Respostas Integradas (PORI), promovido pelo Instituto da Droga e da Toxicodependência. Tratava-se de discutir e chegar a um consenso sobre as propostas de um modelo a seguir para a publicação dos diferentes diagnósticos que resumidamente dão conta da caracterização dos territórios, da identificação dos problemas relacionados com o consumo de substâncias psicoactivas, das necessidades de intervenção e das intervenções propostas. Este grupo de trabalho é constituído por um representante de cada Delegação Regional (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo, Algarve) mais dois dos Serviços Centrais, num total de sete elementos.


O IDT dispõe desde há algum tempo o equipamento para videoconferência que foi sendo progressivamente instalado e ensaiado, mas que não tinha sido ainda usado em situação real, de trabalho. Foi, portanto, uma verdadeira estreia e como tal não dispensou o nervosismo inicial.


Depois de alguns acertos técnicos que atrasaram cerca de meia hora o início da reunião, pode-se dizer que esta correu muito bem tendo-se alcançado os resultados pretendidos. Os participantes de norte a sul do país foram-se sentindo cada vez mais à vontade, acabando até por se esquecer da mediação tecnológica.


O sistema funciona bem, pelo menos com um grupo pequeno. Tem a vantagem de, por si próprio, disciplinar as comunicações. Isto é, obriga a que uma reunião decorra como é suposto decorrer, sem comunicações cruzadas, nem pessoas a falar para o lado, nem tudo a falar ao mesmo tempo. Quando isso acontece é uma cacafonia que não se percebe nada. Naturalmente todos ficam mais centrados no assunto e a reunião é menos cansativa. Não é tão seguro que funcione bem para mais que uma pessoa por posto.


A utilização deste meio tecnológico traduz-se numa economia importante de tempo e dinheiro se pensarmos que uma reunião em Lisboa implica a deslocação de pessoas de quatro regiões com utilização de um dia inteiro acrescido dos custos habituais nestas circunstâncias. Desse ponto de vista, é um exemplo a seguir. Utilize-se sempre que possível este equipamento. No entanto, o encontro das pessoas em presença não deverá nunca ser completamente abolido e substituído pela reunião tecnológia. Há que encontrar este equilíbrio.

Etiquetas: ,

2007-12-11

Transcoisas ou a transgressão das coisas que são

A apreensão que fazemos da realidade é, na realidade, a realidade com que podemos operar. Isto parece um jogo de palavras, mas reconduz-nos quase sempre à velha questão de Paul Watzlawick How real is real? (Watzlawick, 1977) e à ideia de que quanto melhor e mais "real" for o conhecimento da realidade, maior será a capacidade de interagir com ela.
Um artigo de Helga Nowotny(*) faz referência ao que chama Modo-2 de produção de conhecimento, como um esforço intelectual não reductível ao quadro de uma estrutura disciplinar, contrastando-o com o Modo-1, mais focado nas fontes provenientes de uma ou outra estrutura disciplinar.
Segundo esta autora, o Modo-2 de produção de conhecimento é uma nova forma emergente de pensar a ciência que procura responder à necessidade de uma outra linguagem para descrever o que acontece na investigação e apresenta as seguintes características:
1) A investigação contemporânea é cada vez mais realizada dentro dos contextos de aplicação.
Os problemas são formulados através do diálogo entre diferentes actores e diferentes perspectivas e o processo só se inicia após a concordância de todo o grupo;
2) Os diferentes actores trazem uma heterogeneidade essencial de competências (skills and expertises) ao processo de resolução de problemas.
As estruturas organizacionais e as hierarquias perdem algum do seu peso e rompem-se determinadas cadeias de comando.
3) A transdisciplinaridade como plataforma intelectual completamente diferente da tradicional estrutura disciplinar.

Knowledge is transgressive and transdisciplinarity does not respect institutional bounderies

"Há uma espécie de convergência ou co-evolução entre o que acontece na esfera da produção de conhecimento e a forma como as instituições da sociedade se estão a desenvolver" (tradução minha).
O aparecimento de ONG e de outras formas de organização nas quais diversos tipos de interesses se organizam e influenciam a realidade social complexificando-a e essa "trangressão" é melhor capturada pelo conceito de transdisciplinaridade.

A autora enuncia ainda o que considera como os dois mais importantes critérios do Modo-2 de produção de conhecimento: accountability e controlo de qualidade.

Accountability significa responsabilidade (no sentido em que se responde, presta contas), mas diferente da responsabilidade individual que faz parte do ethos de cada um; é mais a responsabilidade institucional;u m processo informal, mas com uma vertente formalizada que permite clarificar a quem se tem que responder.

O controlo da qualidade levanta questões delicadas, uma vez que em muitos contextos o que se procura não é apenas a excelência científica. Embora a excelência científica continue a ser a base fiável para a produção de novo conhecimento, há outros aspectos difíceis de apreender uma vez que os contextos variam. Não há um único critério como no controlo de qualidade na perspectiva disciplinar que estabelece os seus próprios standards para dizer: isto é boa física, boa biologia ou boa geologia. É preciso estabelecer critérios adicionais de qualidade que nos permitam falar qualidade acrescentada (value-added quality) e procurar ultrapassar esse valor-acrescentado e começar a falar de valor-integrado (value-integrated).







(*)Nowotny, H. The potential of Transdisciplinarity. http://www.interdisciplines.org/interdisciplinarity/papers/5

Etiquetas:

2007-12-04

Transpoética

iremos pois de mão dada
como costumamos adormecer
sempre de mão dada
como nos sonhos
percorrer o mundo
este e todos os outros
porque todos os outros também são este

pousar os olhos nas marés de todos os oceanos
lambuzar-nos com o doce das frutas
aprender os ritmos de cada lugar
perdermo-nos na aventura da dança
deixar para trás os desertos
afogarmo-nos no verde das searas
escutar os apelos da terra e do corpo
porque corpo e terra também são voz

marcar o compasso das ilhas
despirmo-nos no espelho das fontes
contar luas pelos dedos
embriagarmo-nos de virtude
semear melodias no vento
escutar em muita línguas
o que dizemos em silêncio

Etiquetas: ,

Pontes e espargatas (I)

Será sempre difícil o entendimento no que se refere à reflexão e crítica sobre as práticas dos outros, estando do lado de fora delas. Mesmo o maior esforço para ver as coisas do lado de dentro, utilizando os quadros de referência dos que estão dentro não resolve a grande questão que me parece ser a de comunicar o que se vê de fora. Qualquer reflexão (palavra rica que tanto pode significar debruçar-se sobre si próprio como sugerir a ideia de se olhar como reflexo no espelho) expressa com frontalidade é tomada como uma crítica (outra palavra interessante nos seus significados) e provoca frequentemente uma reacção defensiva, contrária, portanto, à que se pretende com a discussão. E o que se pretende muito claramente é mudar algumas práticas e nisso há aparentemente muita concordância. Não raro começamos por ouvir inflamadas profecias de mudança e inovação para logo a seguir, quando questionados, se perceber estamos metidos num círculo vicioso, reféns de um passado que se reconhece com erros e incapazes de engendrar uma forma de ruptura para nos apearmos desse carrossel.
Há muito que me interrogo sobre as especificidades dos cuidados de saúde aqueles a quem designamos como toxicodependentes. O reconhecimento da dependência de substâncias químicas como uma doença coloca sem grandes contestações as pessoas que dela sofrem nas mãos dos profissionais de saúde. Depois, consoante as disponibilidades e as inclinações teórico-ideológico-políticas assim têm mais influência (e poder) estes ou aqueles (quase sempre os médicos) sem que se questione muito a razão de ser disso. Se sairmos das nossas fronteiras encontramos já aqui na vizinha Espanha diferentes enquadramentos dos serviços que ora são tutelados pela saúde, ora pelos assuntos sociais e bem-estar como acontece respectivamente nas Comunidades Autónomas da Extremadura e da Andaluzia. O que têm de comum é que as equipas profissionais são invariavelmente constituídas por profissionais da área da saúde (médicos, enfermeiros, psicólogos) e da área social (técnicos de serviço social, educadores, animadores) embora uma perspectiva mais sistémica da saúde os possa considerar a todos desta área, mas isso ficará para outra reflexão.

(continua)

Etiquetas: