o terceiro incluído

2007-12-04

Pontes e espargatas (I)

Será sempre difícil o entendimento no que se refere à reflexão e crítica sobre as práticas dos outros, estando do lado de fora delas. Mesmo o maior esforço para ver as coisas do lado de dentro, utilizando os quadros de referência dos que estão dentro não resolve a grande questão que me parece ser a de comunicar o que se vê de fora. Qualquer reflexão (palavra rica que tanto pode significar debruçar-se sobre si próprio como sugerir a ideia de se olhar como reflexo no espelho) expressa com frontalidade é tomada como uma crítica (outra palavra interessante nos seus significados) e provoca frequentemente uma reacção defensiva, contrária, portanto, à que se pretende com a discussão. E o que se pretende muito claramente é mudar algumas práticas e nisso há aparentemente muita concordância. Não raro começamos por ouvir inflamadas profecias de mudança e inovação para logo a seguir, quando questionados, se perceber estamos metidos num círculo vicioso, reféns de um passado que se reconhece com erros e incapazes de engendrar uma forma de ruptura para nos apearmos desse carrossel.
Há muito que me interrogo sobre as especificidades dos cuidados de saúde aqueles a quem designamos como toxicodependentes. O reconhecimento da dependência de substâncias químicas como uma doença coloca sem grandes contestações as pessoas que dela sofrem nas mãos dos profissionais de saúde. Depois, consoante as disponibilidades e as inclinações teórico-ideológico-políticas assim têm mais influência (e poder) estes ou aqueles (quase sempre os médicos) sem que se questione muito a razão de ser disso. Se sairmos das nossas fronteiras encontramos já aqui na vizinha Espanha diferentes enquadramentos dos serviços que ora são tutelados pela saúde, ora pelos assuntos sociais e bem-estar como acontece respectivamente nas Comunidades Autónomas da Extremadura e da Andaluzia. O que têm de comum é que as equipas profissionais são invariavelmente constituídas por profissionais da área da saúde (médicos, enfermeiros, psicólogos) e da área social (técnicos de serviço social, educadores, animadores) embora uma perspectiva mais sistémica da saúde os possa considerar a todos desta área, mas isso ficará para outra reflexão.

(continua)

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